Em fase primária, a pesquisa já gerou dados significativos e busca orientar a gestão hídrica no estado do Ceará

Na última quarta-feira (23), o Programa Cientista Chefe: Recursos Hídricos apresentou um novo projeto de sustentabilidade hídrica, com apoio do Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (CEPAS). A reunião ocorreu no campus do Pici da Universidade Federal do Ceará e reuniu representantes das principais instituições atuantes em políticas hídricas no estado cearense. Mediante um ciclo de apresentações, o momento foi marcado por discussões e troca de conhecimentos acerca da temática de relevância global.

Intitulado como “Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas do Ceará – Recursos Hídricos”, a pesquisa agrupa nesta etapa profissionais de Engenharia, Ciências Biológicas, Física e Hidrologia. É uma iniciativa desenvolvida no âmbito do Programa Cientista Chefe: Recursos Hídricos da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), em parceria com o Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (CEPAS) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH). 

Na ocasião, sua primeira etapa – Resultados Iniciais – foi exposta, favorecendo a discussão sobre as possíveis melhorias e os passos futuros do plano. O projeto visa enfrentar os desafios na gestão de recursos hídricos, diante do cenário de incerteza climática futura. Voltada para o estado do Ceará, a metodologia do plano inclui estratégias adaptativas para amenizar os impactos sofridos pelas mudanças climáticas. 

METODOLOGIA COM BASE DE DADOS

Identificar desafios climáticos, avaliar impacto regional, desenvolver e implementar estratégias de adaptação, monitorar e avaliar. Esse é o panorama geral do plano que reúne orientações de como prosseguir na gestão dos recursos hídricos, frente à incerteza das mudanças climáticas globais. 

Uma das etapas primárias do Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas do Ceará foi a identificação de temáticas relevantes abordadas em documentos nacionais e internacionais. A existência e análise de planos setoriais – ou seja, com enfoque nos recursos hídricos – é essencial para o desenvolvimento de novos planos. Ressalta-se que é preciso compreendê-los dentro de um contexto maior, lembrando que se trata de uma problemática global.

Foram encontrados 82 documentos de adaptação pelo mundo para apoio à pesquisa, além de 9 documentos de adaptação voltados especificamente para recursos hídricos. Dentre as palavras-chaves encontradas estão: mudanças climáticas, adaptação nacional e plano de adaptação.

A FÍSICA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: ESTUDOS E PREVISÕES

As mudanças climáticas globais são impulsionadas principalmente pelas emissões de gases de efeito estufa. Estes estão provocando alterações significativas nos padrões de temperatura em diversas regiões do mundo – incluindo o estado do Ceará. O aquecimento global já apresenta sinais claros de aceleração, com aumento de eventos extremos como secas prolongadas e chuvas intensas em curtos períodos. 

O professor Alexandre Araújo Costa (UECE) dirigiu os estudos de Física desses fenômenos no contexto do Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas. Foi identificado o desequilíbrio no balanço de energia do planeta, por conta dos mecanismos de retroalimentação que amplificam o aquecimento. Alguns exemplos disso são a maior retenção de vapor d’água na atmosfera e a redução das áreas cobertas por gelo. 

No Ceará, o semiárido impõe desafios históricos à gestão da água. As projeções climáticas indicam a possibilidade de períodos secos mais prolongados e de maior variabilidade nas chuvas. A pesquisa indica que a intensificação do ciclo hidrológico global pode resultar em maior concentração das precipitações em eventos extremos. 

A vulnerabilidade da região é agravada pelas limitações naturais dos seus recursos hídricos e pela crescente pressão das mudanças climáticas.

O BIOMA CAATINGA E O RECEIO COM O FUTURO

A reunião abordou diferentes áreas do conhecimento em que o Plano de Adaptação se insere. Consequentemente, os impactos negativos são previstos e interpretados pela pesquisa em cada domínio. Um dos principais destaques que pode sofrer intensamente com as mudanças climáticas é também o bioma de exclusividade brasileira: a Caatinga.

A apresentação seguiu alertando sobre a mudança do cenário vegetativo com o avançar das mudanças climáticas. A variação de temperatura de maneira progressiva é natural, mas o que se enfrenta atualmente são avanços mais rápidos. A biota (conjunto dos seres vivos) foi seguindo essa variação climática e hoje o que se vivencia são eventos extremos: dias com temperaturas entre 35º e 40ºC – um salto maior do que a média histórica.

RESILIÊNCIA HÍDRICA E PROPOSIÇÃO PARA O FUTURO

O Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas do Ceará – Recursos Hídricos promete ser um avanço na política futura de gestão das águas. O professor Assis Filho, Cientista Chefe de Recursos Hídricos da UFC, mostra-se confiante com o trabalho já feito e com o que ainda se pretende fazer. “Hoje temos condições de ter diretrizes para isso, de incorporar o que não está no plano”, declara.

A professora Carla Beatriz, coordenadora do projeto, explica que o plano é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar. A primeira fase foi construída “por múltiplos conhecedores, diferentes saberes”. Ela adiciona que foram apresentadas as estimativas de vazões dos reservatórios, considerando diversos modelos de mudanças climáticas para os próximos anos. 

Sobre o futuro da iniciativa sustentável, a doutora em Engenharia Civil (Recursos Hídricos) expressa a intenção do projeto. “A ideia é munir o Estado para garantir a resiliência hídrica para os próximos anos, considerando os desafios climáticos. Essa é a ideia do plano”, conclui. Nas próximas etapas, serão trabalhadas análises de risco, de vulnerabilidade e proposição das ações de adaptação.

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